segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Oráculo

Desde pequeno escuta-se dizer que o importante mesmo é fazer o que se gosta e ser feliz. Legal. Parece tudo mais fácil quando se tem alguém para amarrar os teus cadarços. Resta a dúvida do destino quando chega a hora de você mesmo optar por ele. Não que seja algo de extrema dificuldade, longe disso; afinal de contas, escolher uma profissão é moleza. Ou é o que dizem os oráculos quando você pergunta: Estou fazendo o certo?
Se tudo na vida dependesse de respostas de oráculos, talvez assim a certeza tomaria um pouco mais de cor. Fácil mesmo é ter respostas prontas, e alguém que lhe dê comida na boca. Ok, sem demagogias, fato é que as coisas são mais difíceis do que as telenovelas implicam. Não é apenas um romance à Shakespeare, assassinatos indecifráveis – onde só se descobre o autor do crime no último capítulo – e festinhas na lanchonete perto do colégio. Alguns detalhes são esquecidos e meramente ignorados.
O que se sabe é que sempre há um vilão. Primeiro os cadarços; depois a prova de matemática. Em seguida vem o primeiro namorado e a festa de formatura. Mas o pior deles, talvez, seja o Vestibular – que já mudou até de nome na altura do campeonato, numa tentativa de assustar menos, quem sabe. O que fazer pelo resto da tua vida? Um pouco de exagero, recapitula-se a pergunta: O que fazer pelos próximos cinco anos da tua vida? Melhor assim, menos assustador. Ou não. Ainda há a cobrança, a pressão psicológica, e o orgulho do papai.
Jornalismo, isso. Uma boa escolha aos sonhadores de plantão, diz o discurso de Seu José. Mas ela será a melhor! O otimismo da mãe é o melhor calmante nessas horas. E leva-se a faculdade assim. Vontade de desistir não falta, apoio aos tropeços, sono nas aulas de redação. Talvez um pouco mais de adrenalina fosse o bastante para dar uma guinada ao acaso... um estágio. Ótimo! Procura-se estágio. E-mails, currículos, todos entregues nas mais diversas empresas, cujas perspectivas são das melhores escalas. E o que se recebe são exigências e requisitos a se alcançar para agora, e necessita-se de alguns meses.
“Precisa-se de estagiário com experiência”. E como ter experiência se esta não é oferecida? Pede-se por alguém inventado. Alguém que não comece a faculdade aos 17 anos, com tempo o suficiente para fazer dos mais diversos cursos. Fácil seria se já se nascesse sabendo. Definitivamente, o Vestibular não é o pior. O primeiro emprego, fato. Que de primeiro não deveria ter-se nada, se espera-se experiência o suficiente para preencher os tão almejados requisitos.
Mas, ok, é necessário ter calma. Ou um oráculo de novo, pra perguntar se é isso mesmo que se quer. Resta-se a opção de escolher em qual área querer atuar. Dizem que assessoria de imprensa é uma área chata. Comunicação interna de uma empresa, quem sabe. Redações de grandes jornais, corrida contra o tempo na hora de entregar uma notícia, arriscar a vida pela informação, ter seu nome estampado nas páginas amarelas de uma revista ou ser até correspondente internacional! É isso, mais fácil do que se imaginava.
Só que é esquecida toda a parte inicial disso tudo. Os primeiros períodos da faculdade, todas as matérias teóricas que te fazem ter dor de cabeça por uma semana – ou mais – e todos os professores que exigem de você textos e mais textos, em seis meses. Ilusão seria aceitar isso como martírio, quando se, na realidade, a cobrança muda de uma semana para três horas.
Faz a pauta, corre atrás de fontes seguras (ou simplesmente fontes), escreve o lead, o sub-lead, e todo o resto. Tira-se nota baixa, reescreve. Muda o jeito de escrever. Melhora-se a nota. Ótimo, parece que tudo está se colocando nos eixos... Até a semana seguinte, com o próximo texto a ser entregue ao professor, e o medo de perceber que aquilo ali não é para você. Daí, o vilão, que agora era o primeiro estágio, volta ao tão assombrado Vestibular. Era isso mesmo? Jornalismo? Talvez o Seu José tivesse razão naquele pessimismo todo de discurso de sonhador. Talvez sonhadora mesmo fosse a mãe, que acredita no potencial do filho jornalista. Será?
Engraçado é pensar no companheiro da realidade como um sonho. Jornalismo, a verdade como ela é, nua e crua, sendo taxada de Profissão Utópica. Será? Ainda prefiro o desafio dos cadarços, a tensão do Vestibular ou o desejo primeiro emprego. Antes ser jornalista e correr atrás do que se quer, do que levar uma vida inteira de Oráculo. Tentar adivinhar o destino é tedioso demais.